Finalmente disse tudo o que queria. Hoje, depois de jantar, houve uma reunião familiar acerca da minha mãe: como ela era e no que se tem vindo a tornar! A minha mãe era uma pessoa muito receptiva a tudo, pouco a incomodava, não era muito reservada, era extrovertida como eu! Desde a doença da minha irmã ter aparecido que ela se começou a tornar uma pessoa fechada ao mundo, tudo a incomoda: muitos sons, luzes, pessoas. A partir do momento que a minha irmã morreu, a vida da minha mãe parou! E é isso que ela não consegue compreender: que existem pessoas à volta dela, pessoas que interajem com ela diáriamente, pessoas que vivem com ela, que a vêm seja qual for o seu estado de espírito e, mesmo que não queiram, têm de aguentar! Mas o que está em causa é que na reunião foram faladas variadas coisas, entre as quais (a mais falada, claro) a morte da minha irmã. A minha mãe chora todos os dias. Enquanto o meu pai esteve fora, quem aguentava com isso, DIARIAMENTE, era eu. Incomodava, sim, bastante. Mas tinha que engolir. Às vezes queria falar com ela, ia ao quarto ela não estava; ia à sala, nem sinal dela. Finalmente ia a cozinha, lá estava ela sentada às escuras ou à janela a chorar. Eu virava costas e fechava-me no quarto! No final, estava sozinha e ela nem se apercebia que eu me sentia sozinha! Até que rebentei e disse ao meu pai, através do Skype (a única maneira que conseguiamos falar era através do Skype) o sucedido: estava farta do comportamento da minha mãe, que como se não bastasse chorar pelo que aconteceu, também tinha colado uma foto da minha irmã no relógio da cozinha e isso fazia-me impressão! Eu achava que só a fazia sofrer mais. Resposta do meu pai: que tens a ver com isso? Se a tua mãe se sente confortável assim, deixa-a! É uma maneira dela ver a tua irmã perto. Ok! Engoli de novo! Agora, o meu pai está cá e dá-me razão. E vocês, leitores/as, nem imaginam como é óptimo ver que afinal sempre tivemos razão. Passo a explicar-vos: eu entendo que a minha mãe sinta dor. Entendo que ela perdeu uma filha, amor de mãe e amor de pai difere bastante. A mãe é que carrega o filho 9 meses, é que o dá à luz, amamenta-o, a mãe é sempre mãe. O pai simplesmente fê-lo (atenção, não estou a menosprezar o trabalho masculino!). Entendo que a dor seja permanente, entendo que nunca irá passar. Mas existem MILHÕES de mães pelo Mundo inteiro que perdem filhos, que perderam mais que um filho, muitas perderam os filhos ao mesmo tempo, outras perderam no mesmo dia, até conheço um caso em que a senhora perdeu uma filha num acidente de viação na data X e passados dois anos, dessa mesma data perdeu o filho. A senhora trabalha na mesma, a vida continua, só pára para os que morrem! Mas a minha mãe não entende isso. Para ela, parece que só ela é que perdeu uma filha, só ela é que sabe o que é essa dor de perder um rebento. E é isso que eu lhe digo. O porquê de estar com raiva? Porque, na perspectiva dela, eu tenho 16 anos, sou apenas uma ''criança'', não tenho voto na matéria, não penso racionalmente, acho que o mundo é cor-de-rosa e brinco com bonecas. Mas se o meu pai tiver exactamente a mesma opinião que eu (que é o que se passa, de momento), ela já engole a algum custo e já se defende com os seus argumentos! Isto está-me a irritar seriamente, porque ela não entende que a vida continua, que a dor permanece e nós entendemos, mas que existem mais mães na situação dela, e que nós que vivemos com ela já não suportamos isso. E como se não bastasse, acha que tudo isto que eu acabei de escrever (que lhe disse na cara) é para a mandar abaixo, que quando é para a menosprezar eu junto-me ao meu pai, etc etc. Enfim, com isto, pouco ou nada lhe falo, a situação ficou tensa, o ambiente pesado e eu raivosa. Eu vi o meu pai às portas da morte, magro que nem um esqueleto e assisti ao caminho da minha irmã até à morte portanto se há coisa que não sou É CRIANÇA.
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