segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
«Não sabes nada sobre a vida»
Ontem deparei-me comigo a pensar em diversas coisas que, embora bastante diferentes, se interligavam de maneira brutal. Tudo começou quando alguém se lembrou de me dizer ''tu não sabes nada sobre a vida''. Será? Bem, para vos transmitir o meu raciocinio. Vou começar a partir do momento que o meu namorado me disse ''tens uma zona abdominal enorme'', ao que eu respondi '' foi da natação...''. Andei 8 anos na natação, sem paragens. Até que um dia, tornei-me mulher. Aí, como não estava habituada a usar determinadas coisas, havia imensas vezes que não ia às aulas de natação. Porém, continuava a ir. Mas houve um dia que cheguei ao pé da minha treinadora e disse: Stora, hoje é a minha última aula. Dei o tudo por tudo. Normalmente, se fizesse seis ou oito piscinas de croll ou bruços, mesmo estando treinada, havia aquele cansaço já na quarta piscina... Naquela aula, sabendo que era a última vez que vestia o fato-de-banho, punha a toca, calçava os chinelos e ia ver o fundo da piscina através dos meus óculos, dei o tudo por tudo e não me cansava. No final, despedi-me com tristeza, pois o motivo da saída não era o melhor: o meu pai tinha cancro. Os tempos já não eram fáceis, e precisava de dinheiro para as operações e tratamentos. Fiz um sacrificio, deixei de fazer algo que amava (eu amo água, nadar..) porque era necessário. Tive de crescer mais do que me era permitido enquanto 'lei das crianças'. Considero a 'lei das crianças' sendo a lei que nos obriga a brincar com bonecas enquanto somos pequenas porque somos pequenas, nao estamos prontas para o Mundo, para a vida, portanto ficamo-nos por brincar com 'alguém' que não nos fará mal, pintar-nos como princesas aos 7, 8 anos.. ir crescendo e chegar à adolescência e ler-mos aquelas revistas, etc etc etc... Continuando. Tive de crescer, a um ritmo diferente das outras crianças. Tive de me fazer 'mulherzinha' a outro ritmo. As minhas colegas tinham comportamentos que, secalhar se eu tivesse a mesma idade mental e maturidade delas, acharia correctos. Mas não, não conseguia aceitar, embora soube-se que tinha de aceitar, porque eu era diferente. A minha mãe teve uma profunda depressão por causa da doença do meu pai, sendo este mais um dos motivos que me levou a crescer. Acho que a imagem que tenho do meu pai a chorar imenso, por medo de morrer, pela operação que era (a que liderava nos casos mortais), pelo medo de ficar com o 'saquinho', me marcou bastante. Passado alguns anos, debate-se a tragédia familiar, que acabou por unir também laços há muito 'desatados': o cancro maligno da minha irmã. Seguiu-se a mudança de escola. Sempre andei numa escola em Lisboa, e de repente, vejo-me em Mem-Martins, sem conhecer ninguém. Mas depressa me habituei. Finalmente, a morte da minha avó. Sofri bastante, pois era alguém com o qual eu estava completamente ligada, nutria um enorme carinho por ela. Infelizmente, não consegui crescer devagar, a vida não mo permitiu. Portanto, não aceito que me digam que não sei como é a vida, e as divergências desta. Posso ter passado por pouco, aos olhos de alguns, mas chega, para já. Fazendo um balanço: cresci mais em 4 anos do que algumas pessoas crescem em 10.
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